E de
calar-me para evitar um estrago maior, mãos invisíveis se contorceram em torno
de minhas cordas vocais e tudo o que restou foi silêncio e tosse. Uma tosse tão
indignada quanto as palavras que contive, numa espécie de gripe emocional, meu
próprio corpo manifesta toda a sua revolta e ressentimento.
Engraçado
como as demais pessoas são capazes de se manifestar, de dizer o que querem
dizer, mesmo que (na maior parte das vezes) a razão não esteja totalmente ao
seu lado. Sinto os olhos lacrimejarem e arderem de forma inconveniente: é a
irritação provocada pela gripe ou meu corpo manifestando sua raiva pelas
palavras contidas naquele silêncio desconfortável que se seguiu aos eventos?
E me
pergunto, como é que se pode exigir certos comportamentos de outras pessoas,
quando normalmente se comporta de forma tão mesquinha e grosseira? Meu corpo
está cansado, impaciente com determinadas coisas, não posso dizer que o culpo:
Tanto já foi obrigado a suportar, tanto calou mediante certos fatos para não
provocar atritos e manter unidos aqueles a quem ama visceralmente, tanto já foi
exigido dele para manter a paz e a cordialidade; não acho injusto que ele
aceite se calar por mais tempo.
No momento
crucial, engoli minhas opiniões e as palavras que se formaram em minha mente e
abriram caminho, coléricas e indignadas através de mim. Ao fazer isso,
aprisionei dentro de mim, por acreditar que fosse o melhor a ser feito no
momento para acalmar os nervos exaltados e as palavras envenenadas dispersas no
ar pesado, tudo o que deveria ter dito desde o começo. Engano meu! Pude calar
minhas palavras e meu corpo, mas não pude silenciar minha mente.
A partir
de hoje, fiz uma promessa a mim mesma e ao meu tão sofrido corpo que vem me castigando há tempos com uma rouquidão
teimosa pelas palavras não ditas, não mais aprisionarei meus pensamentos e
minha voz para o bem de outros. Não mais calarei minhas opiniões e minhas
objeções quanto às ações e comportamentos abusivos impostos à mim e aqueles a
quem amo. Assim como meu corpo, gritarei se preciso, que já basta! Que já chega
de ingratidão, palavras ocas cheias de equivocada indignação, que já tivemos o
bastante de maus tratos, de atitudes egoístas e de provocações ridículas.
Chega!
Imagem: Bernardo Cau